Desde muito pequena que os meus pais me tem vindo a incutir valores e me ensinado o que é ou não aceitável em sociedade. Há dias porém, em que eu questiono o que terá ocorrido ao resto dos pais das pessoas da minha idade.
Provavelmente, a maior parte desistiram e
os mais audazes faleceram após lhes ter rebentado o nervo ocular devido ao
esforço e stress extremo a que foram submetidos.
De quando em vez, lá oiço alguém proferir
um comentário impróprio, fazer algo politicamente incorreto em sociedade ou
portar-se, mesmo, como se vivesse num cabaret gigante em que as outras pessoas são
concorrentes que poderiam roubar-lhes a gorjeta. Isto se não fossem eliminados rapidamente.
Só me falta entrar no bar e deparar-me com
alguém a fazer a dança do varão em cima do balcão, pendurar-se de cabeça para
baixo e realizar o pagamento com as mamas a baterem nos queixos. A julgar pela
quantidade de gente que dispensa a roupa interior, há que ter cuidado, que uma
mama desgovernada ainda pode fazer muitos estragos, ainda vazam uma vista a
alguém...
Porém, na minha ingenuidade, ainda costumava
encarar a nossa geração como uma geração de alguma maneira superior aos
adolescentes de hoje em dia. Tivemos acesso a cultura, livros e filmes intemporais,
música com qualidade, porém tudo isso se está aos poucos a perder.
Percebi isso quando, na fila para o
almoço, a propósito de uma conversa sobre a minha infância, referi que jogava
Pokemón quando era pequena e por vezes, ainda o fazia. A resposta que me deram
foi que “parecia um gajo” e que “me devia de preocupar em arranjar um namorado
e sair á noite”. Bem, eu tinha um monte de garfos á minha disposição, mas só
não espetei um nós olhos da criatura porque não tinha ferrugem e por conseguinte perdi
o interesse.
Um dos locais perfeitos para constatar
este facto é a minha universidade. De facto, se eu fosse uma socióloga ou
psicóloga que quisesse realizar um estudo sobre a juventude do dias que correm
era exatamente para lá que me dirigiria.
Por vezes encaro este local como uma
espécie de desfile ao estilo “freak show”. Lá encontra-se um pouco de tudo. É como
se tivessem pegado em cada grupo da sociedade, recolhido os seus mais belos
espécimes e os tivessem colocado naquele pequeno edifício tristonho de ambiente
saturado. Uma espécie de amálgama, ou de vomitado (que me parece uma comparação
mais fiel), de pessoas irremediavelmente diferentes, tanto nos pontos de vista
como nas maneiras de ser, o que se traduz nos mais bizarros comportamentos.
No meio de um ambiente tão rico em
comportamentos dignos de relevo e que clamam por explicação, decidi salientar
dois espécimes, de rica casta, que considero merecedores de um estudo mais
minucioso.
A primeira, do género feminino, tomei a
liberdade de apelidar de “Pepe rápido com calçado Guimarães”, isto porque
nenhum nome me pareceu chegar perto de uma mísera descrição aceitável deste ser
único.
No seu passinho a apressado que o
distingue de todos os outros, é impossível não perceber quando é que ela se
aproxima.
Ainda que possua umas pernas mais curtas
que a maioria das pessoas, isso não a impede de fazer aparições, deslocando-se
com uma rapidez sobre humana, como se lhe tivessem administrado uma dose
elevada de adrenalina ou dopamina, suficiente para um cavalo fazer uma viagem
de Lisboa ao cartaxo em cinco minutos.
Por vezes comparo os seus passinhos com os
de um Chihuahua raquítico, cujas patinhas minúsculas se deslocam tão depressa
que quase provocam a ilusão ótica de o seu tronco estar a flutuar sozinho no
ar.
É porém no ato de alimentação que esta se
distingue. É impossível reparar em algo para além do que nos movimentos
hipnotizantes daquela pequena, mas poderosa, mandíbula, que se abrem e fecham num
padrão repetitivo, mas altamente intrigante e complicado, como um género de
“mastigação sincronizada”.
Devo referir que os mais audazes já
tentaram, em vão reproduzir os intricados movimentos daquela maxila, porém sem
resultados satisfatórios, e culminado em muitos maxilares deslocados e pequenas
rixas devido à poluição sonora causada.
Esta porém, a cada mastigação, abre a sua
boca deixando-nos antever, não só o bolo alimentar em formação, como o seu
conteúdo estomacal e o trajeto até ao duodeno, o que constitui uma viajem
extremamente educativa em termos anatómicos mas a roçar o grotesco no que toca a
maneiras a adotar em sociedade.
Mas não é apenas isto que faz com que o
“pepe rápido” sobressaia na multidão, em termos metafóricos, claro.
Esta, para além de todos estes atributos,
possui uma capacidade emocional extremamente desenvolvida e exacerbada, semelhante
a uma adolescente de 14 anos quando lhe aparece pela primeira vez o período.
Esta inclui-se no género
“Emocional-que-tudo-sente”, sentido muitas vezes necessidade de expressar os
sentimentos que inundam a sua mente, provocando uma espécie de catástrofe
ambiental á escala mundial no seu encéfalo, num blog intitulado “trotes na
areia”.
Este blog é um local de reflexão, no qual
se encontram poemas demonstrando a sua paixão e sexualidade vincada, dirigida a
membros do sexo masculino, entre textos sobre quão belo o mundo seria se fosse
povoado por unicórnios e fadinhas cintilantes.
Por vezes questiono-me se o “Pepe rápido”
não viverá numa espécie de universo paralelo onde tudo é belo e brilhante, com
personalidade dramática e no qual ela mede um metro e oitenta e possui seios
pronunciados.
Contudo, a “Pepe rápido com calçado Guimarães” não é o
único ser que sobressai, de forma holística, na amálgama sociológica da minha
universidade... Continua
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