domingo, 7 de outubro de 2012

Pepe Rápido vai à escola (e a seguir ao Guimarães)



Desde muito pequena que os meus pais me tem vindo a incutir valores e me ensinado o que é ou não aceitável em sociedade. Há dias porém, em que eu questiono o que terá ocorrido ao resto dos pais das pessoas da minha idade.
Provavelmente, a maior parte desistiram e os mais audazes faleceram após lhes ter rebentado o nervo ocular devido ao esforço e stress extremo a que foram submetidos.
De quando em vez, lá oiço alguém proferir um comentário impróprio, fazer algo politicamente incorreto em sociedade ou portar-se, mesmo, como se vivesse num cabaret gigante em que as outras pessoas são concorrentes que poderiam roubar-lhes a gorjeta.  Isto se não fossem eliminados rapidamente.
Só me falta entrar no bar e deparar-me com alguém a fazer a dança do varão em cima do balcão, pendurar-se de cabeça para baixo e realizar o pagamento com as mamas a baterem nos queixos. A julgar pela quantidade de gente que dispensa a roupa interior, há que ter cuidado, que uma mama desgovernada ainda pode fazer muitos estragos, ainda vazam uma vista a alguém...
Porém, na minha ingenuidade, ainda costumava encarar a nossa geração como uma geração de alguma maneira superior aos adolescentes de hoje em dia. Tivemos acesso a cultura, livros e filmes intemporais, música com qualidade, porém tudo isso se está aos poucos a perder.
Percebi isso quando, na fila para o almoço, a propósito de uma conversa sobre a minha infância, referi que jogava Pokemón quando era pequena e por vezes, ainda o fazia. A resposta que me deram foi que “parecia um gajo” e que “me devia de preocupar em arranjar um namorado e sair á noite”. Bem, eu tinha um monte de garfos á minha disposição, mas só não espetei um nós olhos da criatura  porque não tinha ferrugem e por conseguinte perdi o interesse.
Um dos locais perfeitos para constatar este facto é a minha universidade. De facto, se eu fosse uma socióloga ou psicóloga que quisesse realizar um estudo sobre a juventude do dias que correm era exatamente para lá que me dirigiria.
Por vezes encaro este local como uma espécie de desfile ao estilo “freak show”. Lá encontra-se um pouco de tudo. É como se tivessem pegado em cada grupo da sociedade, recolhido os seus mais belos espécimes e os tivessem colocado naquele pequeno edifício tristonho de ambiente saturado. Uma espécie de amálgama, ou de vomitado (que me parece uma comparação mais fiel), de pessoas irremediavelmente diferentes, tanto nos pontos de vista como nas maneiras de ser, o que se traduz nos mais bizarros comportamentos.
No meio de um ambiente tão rico em comportamentos dignos de relevo e que clamam por explicação, decidi salientar dois espécimes, de rica casta, que considero merecedores de um estudo mais minucioso.
A primeira, do género feminino, tomei a liberdade de apelidar de “Pepe rápido com calçado Guimarães”, isto porque nenhum nome me pareceu chegar perto de uma mísera descrição aceitável deste ser único.
 No seu passinho a apressado que o distingue de todos os outros, é impossível não perceber quando é que ela se aproxima.
Ainda que possua umas pernas mais curtas que a maioria das pessoas, isso não a impede de fazer aparições, deslocando-se com uma rapidez sobre humana, como se lhe tivessem administrado uma dose elevada de adrenalina ou dopamina, suficiente para um cavalo fazer uma viagem de Lisboa ao cartaxo em cinco minutos.
Por vezes comparo os seus passinhos com os de um Chihuahua raquítico, cujas patinhas minúsculas se deslocam tão depressa que quase provocam a ilusão ótica de o seu tronco estar a flutuar sozinho no ar.
É porém no ato de alimentação que esta se distingue. É impossível reparar em algo para além do que nos movimentos hipnotizantes daquela pequena, mas poderosa, mandíbula, que se abrem e fecham num padrão repetitivo, mas altamente intrigante e complicado, como um género de “mastigação sincronizada”.
Devo referir que os mais audazes já tentaram, em vão reproduzir os intricados movimentos daquela maxila, porém sem resultados satisfatórios, e culminado em muitos maxilares deslocados e pequenas rixas devido à poluição sonora causada.
Esta porém, a cada mastigação, abre a sua boca deixando-nos antever, não só o bolo alimentar em formação, como o seu conteúdo estomacal e o trajeto até ao duodeno, o que constitui uma viajem extremamente educativa em termos anatómicos mas a roçar o grotesco no que toca a maneiras a adotar em sociedade.
Mas não é apenas isto que faz com que o “pepe rápido” sobressaia na multidão, em termos metafóricos, claro.
Esta, para além de todos estes atributos, possui uma capacidade emocional extremamente desenvolvida e exacerbada, semelhante a uma adolescente de 14 anos quando lhe aparece pela primeira vez o período.
Esta inclui-se no género “Emocional-que-tudo-sente”, sentido muitas vezes necessidade de expressar os sentimentos que inundam a sua mente, provocando uma espécie de catástrofe ambiental á escala mundial no seu encéfalo, num blog intitulado “trotes na areia”.
Este blog é um local de reflexão, no qual se encontram poemas demonstrando a sua paixão e sexualidade vincada, dirigida a membros do sexo masculino, entre textos sobre quão belo o mundo seria se fosse povoado por unicórnios e fadinhas cintilantes.
Por vezes questiono-me se o “Pepe rápido” não viverá numa espécie de universo paralelo onde tudo é belo e brilhante, com personalidade dramática e no qual ela mede um metro e oitenta e possui seios pronunciados.
Contudo, a “Pepe rápido com calçado Guimarães” não é o único ser que sobressai, de forma holística, na amálgama sociológica da minha universidade... Continua



Ivana Fuckalot
Colaboração de Diva Gina Berta


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